quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Inocencia.

Uma criança, um brinquedo. Me entreguei sem medo. Com um pé atrás para não cair, você me provou que sabe bem mentir.

Parado ao pé de uma escada, com as mãos estendidas, olha em meus olhos, segura minhas mãos e pergunta-me se eu não gostaria de te acompanhar por esse novo caminho. "Por que não?", eu penso. Desde que eu mantenha meu coração seguro, não tenho nada a perder. Estendo a ti minhas mãos para que de encontro as tuas fossem, me segura e me passa segurança.
Sinto algo estranho em meu corpo... Sinto algo estranho em seu corpo. Cordas começam a surgir, ligando-se a nossos dedos, nossas mãos, a todas as partes de nosso corpo. Minha pele agora tem uma textura nova, uma mistura de madeira e pano, um cheiro envernizado, assim como a sua. Somos brilhantes, macios, de feições perfeitas, perfeitamente desenhadas. Cores vivas, ricos em detalhes.
Descobri que perdi o controle sobre meus movimentos, meus pés não ordenados subiam as escadas junto dos teus. Nossas mãos unidas, nossos bonecos eram inseparáveis. Tento, com todo esforço, observar ao meu redor para saber se eu seria capaz de entender o que estava acontecendo. Vejo mãos segurando nossas cordas, rostos embaçados, ligeiramente conhecidos, irreconhecíveis. Quem eram aqueles? Por que nos controlavam? Por que queriam nos ver juntos, seguindo um novo caminho? Manipulando-nos como jogos de computação gráfica. Qual o sentido disso tudo?
Eu observei que sua boca se mexia e que você gesticulava, parei para ver se conseguia entender o que você queria dizer com tudo aquilo. Palavras de consolo, gestos amigos, conversas profundas e longas. Mas espere um minuto... Isso não acontecia antes. O que houve? Quem é esse ser que te controla? Quem é o outro que me controla? Me fazem responder aos seus atos quase que perfeitamente, agindo horas como sou, horas como fui...
Como fantoches e marionetes... Nós viramos parte de um jogo.

Acho que você não é o ventríloco dessa vez. E nem eu.

Inversibilidade

Passado imprevisível, futuro conhecido.
Perco-me tentando lembrar o não ocorrido e me assusto sabendo o que pode estar por vir ou, até mesmo, o que já veio. Quem diria que entre tantas “controversidades” os que se tornariam irreconhecíveis seriam esses conhecidos como Passado e Futuro.
O Passado era uma pessoa tão cheia de hábitos... Você seria capaz de dizer exatamente o que o passado iria fazer, ou não, a menção de simples palavras. Ele mudou. Sim, ele mudou! Por mais difícil que seja crer e conseguir compreender, o passado que conhecemos já não existe mais. Sem motivo, ou razão, aquilo que nos acolhia, aconchegava, ou assombrava, revolveu partir nos deixando o vazio. Consegue se lembrar de quem era? Está imprevisível! Não tente observar-lo, dessa vez você não vai conseguir. Ele está mutável e não permanece mais no mesmo lugar. Eu mesma já o perdi a muito de vista.
E o futuro? São sempre as mesmas perguntas, as mesmas respostas, os mesmos atos... Déjà vus estranhos e inconfundíveis. Que futuro é esse? Problemas constantes e constantemente cíclicos... Problemas que você já conhece a solução, que você tenta resolver, acha que resolveu e eles voltam. Que futuro é esse onde tudo é previsível?